347, Humberto Delgado, Coimbra

18-03-2012 14:32
Há espaços que são verdadeiros lugares... Um lugar é um espaço com gente dentro. Por isso, faz parte da vida e da identidade de quem o frequenta. Um espaço, ao contrário, apenas assinala a passagem desinteressada de gente que não se detém para dele fazer parte. Enquanto o espaço promove relações frias e distantes entre quem se cruza por mero acaso, o lugar tem história, tem memória e ajuda a fortalecer a identidade dos grupos. O lugar é a nossa "casa" que, bem sabemos, é sinal do nosso conforto.
O nº 347 da Humberto Delgado foi um lugar desses... Fez-nos crescer a todos em grupo, que é na verdade como se deve crescer. Foi ali que sorrimos e gritámos de alegria, foi ali que, cúmplices uns dos outros, sufocamos o nozinho da garganta dos momentos menos exaltantes. Foi, por isso, a "casa" a que acorremos e fez de nós uma coletividade. Pudemos entrar e festejar, pudemos "convidar" outros a partilhar a festa conosco. Pudemos sair para voltar depois, reconfortados pela certeza de sermos um grupo com "casa" própria. O nº 347 da Humberto Delgado foi esse lugar que, quase dava vontade de dizer, por magia, deu identidade própria ao CAD.
E agora? Só posso dizer que, apesar do escombro em que está transformado neste final de Janeiro, o pavilhão do nº 347, o CAD continua. Sim é possível continuar a ser um grupo, mesmo sem "casa". Como as pessoas escorraçadas de todos os tetos não deixam, por isso, de ser pessoas merecedoras do nosso respeito nem perdem a sua identidade. Têm agora, isso sim, uma identidade fragilizada. No CAD, não vamos deixar de rir com a bola que entra no cesto e de calar a mágoa que nos assalta quando bate na tabela, acaricia o aro e se vai embora, rebelde. Só que tudo isso se passará agora em "casa" alheia. Ou então na nossa "casa" imaginada. No lugar estranho que existe apenas na nossa mente e, portanto, não pode ter gente dentro. Mas não é por isso menos capaz de nos mobilizar e nos dar força enquanto grupo. Dá-nos até mais ânimo para reencontrarmos o nosso lugar num qualquer outro espaço.
Claro que não depende de nós... ou apenas de nós. Aqui entra a política e instala-se a incógnita. Infelizmente nem sempre a política percebe estas coisas do social, dos grupos e das pessoas. Pior é quando não percebe também da cidade. Uma cidade é uma comunidade de compromissos. Compromissos com o bem-estar coletivo, com a memória dos lugares e com a esperança no futuro. Quando a política entende que as cidades são feitas destes acordos e promessas, a vida dos grupos e das pessoas corre melhor. Caso contrário, é a cidade no seu todo que fica a perder. A incerteza existe, mas a nossa esperança na cidade dos compromissos é bem maior! É do tamanho da esperança que temos no novo pavilhão do CAD. É grande a esperança que temos em voltar a sorrir com o saltitar da bola em nossa "casa".

Carlos Fortuna

29/01/2012

 

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